Tuesday, May 31, 2005

O NÃO FRANCÊS II

É batota afirmar-se que o não francês se justifica por questões internas. É batota não assumir que os alargamentos sempre foram controversos. É batota não querer aceitar que o último alargamento foi um favor à Alemanha e que alguns dos novos países da UE nunca foram considerados “europeus”. É batota não admitir que a UE actual é uma família numerosa demais para uma casa tão pequena... ou noutra alusão: que são tantas as assoalhadas para tão poucas casas de banho.

O NÃO FRANCÊS

O meu avô, talvez por que viu nascer três filhas, sempre disse que uma coisa nunca aceitaria: que uma filha sua começasse por namorar, fosse depois viver fora de casa com um homem, tivesse por fim filhos e, só depois, pedisse autorização para casar.

Monday, May 23, 2005

DELLOITE VIEIRA

Quem não siga regularmente o futebol em Portugal e, entre emoções, tenha prestado atenção às palavras do comentador de futebol da SIC ficará confundido... Diz o comentador que este campeonato ficará na história por más razões, entre outras tantas frases que só não causam controvérsia por que se vive em euforia cachaceira.
O desatento português ao ouvir as frases do comentador da SIC ficará perplexo... se um entendido do desporto de bola no pé (ie, um comentador com mais tempo de antena do que o Prof. Marcelo) afirma de forma categórica que não existiu verdade desportiva no campeonato que ora finda, então o que fazer..? Ficará perplexo o desatento português por se aperceber que nada se faz em reacção a tais afirmações. E caso acredite no que o comentador lhe diz, ficará o desatento português a saber que em Portugal nada se impugna no futebol, e que tudo, tudo menos a cor, fica na mesma!
Ao inverso, para quem já assiste ao futebol faz quase vinte anos, a questão é mais simples e resume-se a duas frases que valem tudo. A primeira, a do presidente do clube que acabou o campeonato em primeiro lugar ao confessar, no início da época, que o seu o clube não precisava de bons jogadores pois o indispensável era a dominação (o "domínio absoluto") nas instituições da Liga de Futebol Profissional. A segunda, publicada faz dois meses na revista “Visão”, saiu da boca de um sócio da empresa Delloite que elaborou o estudo de viabilidade económica de alguns dos novos estádios. Afirmava o senhor doutor que: “era muito bom para o país que o Benfica fosse campeão”.

PS: Este post teve como única motivação a prestação de serviços do Sr. árbitro António Costa ontem em Alvalade ao garantir o segundo lugar (e a correspondente entrada directa na Liga dos Campeões) ao clube do seu coração.

Tuesday, May 17, 2005

JÁ FALASTE COM O TEU BANCO?

No caso «Portucale» o que menos releva são os coitados dos sobreiros abatidos. Aqueles que buscam anteriores autorizações para abates dessas preciosas árvores lançam apenas areia e incitam a confusão. A questão não está nos sobreiros. Efectivamente, pelo que se conhece até agora, as questões são as seguintes:

1. Ficámos a conhecer que Ministros do anterior Governo agiram de má fé para com os interesses do Estado, adulteraram datas como se fossem crianças a brincar às escondidas, e insistiram em "despachar" assuntos importantes apesar da demissão do Governo. Como se não existisse suspeita que bastasse na política nacional, sabemos agora que houve Ministros a "cozinhar" processos e a participar no cambalacho com grandes grupos económicos e privados... afinal o PCP andava, mas sem saber, próximo da verdade...

2. Ficámos todos com a suspeita de existirem ligações perigosas entre o financiamento de alguns partidos poíticos e os negócios que alguns ex-ministros (desses partidos) promovem no Governo. A suspeita já existia também... Saldanha Sanches sempre a denunciou... agora circunscreve-se a um caso concreto. É o pior da política: utilizar o Estado para servir o financiamento dos próprios partidos!

3. Ficámos ainda tristes por saber que o responsável pela tesouraria do CDS/PP nos últimos 10 anos, e ex-membro da direcção, deve 13 milhões à Segurança Social. Já se sabia que esse doutor tinha "oferecido" ao Estado (em troca de um perdão de dívidas) um hotel na Madeira meses antes do mesmo ser demolido para a ampliação do aeroporto. Para tesoureiro, está tudo dito! É um curriculum imbatível.

Friday, May 06, 2005

O MAU INVESTIMENTO

A presença do Sporting na final da Taça UEFA é bom exemplo de como existe sempre dois modos de olhar uma mesma situação.
O Sporting na final é a garantia de que o futebol português é, ainda, uma referência – três finais de equipas em três temporadas consecutivas e uma final de selecção nacional num campeonato europeu. Trata-se de um fortíssimo impulso para o futebol enquanto modalidade desportiva, sobretudo para o crescimento de jovens adeptos e de jovens praticantes, é determinante para rentabilizar os novos estádios, aumenta o valor dos jogadores nacionais, e, mais importante, traz alegria aos adeptos, e mesmo algum amor próprio à nação portuguesa.
Mas mesmo este cenário pode ter um lado menos feliz... o futebol impõe-se, novamente, como a modalidade praticada em Portugal com mais sucesso internacional, o que pode colocar as outras modaliadas numa sombra fatal. Se desde há uma década tínhamos um futebol no qual se gastava muito dinheiro e, em troca, se ganhava poucas competições internacionais, nos últimos três anos essa situação alterou-se... embora se continue a gastar demasiado. Nessa medida, as restantes modalidades desportivas (desde logo com menos adeptos do que o futebol, mas com muitos praticantes) podem sair assim prejudicadas pelo recente sucesso do futebol nacional. Tais modalidades, até agora com pouquíssimos apoios, ficarão no futuro de fora das aventuras de competição, sobretudo a nível internacional onde é preciso muito dinheiro para investir em formação, jogadores e instalações. É que gastar dinheiro em modalidades "extra-futebol" parece ser em Portugal – infelizmente – cada vez mais um investimento pior do que investir no futebol... cada vez mais investir nos outros desportos é prelúdio de um mau investimento. E vivemos um mundo que não perdoa um mau investimento.

Thursday, May 05, 2005

A CORRIDA POR LISBOA, DUAS DÚVIDAS

Na corrida para a Câmara Municipal de Lisboa, e perante os candidatos anunciados, coloco duas dúvidas.
A primeira dessas dúvidas é saber se os eleitores de Lisboa voltarão a votar no mesmo perfil de candidato em que votaram para as legislativas. Vale de pouco esconder o facto... Carrilho é um candidato com um perfil muito próximo de Sócrates: teve uma passagem positiva por um ministério, tem um posicionamento claro no seio do partido, tem uma imagem mais nova e energética do que a maioria dos políticos, não utiliza um discurso marcado pela dicotomia esquerda/direita, não tem uma linguagem demagógica nem populista embora alguns o acusem de distanciamento e de uma leve prepotência, é “media friendly”, e parece ser rigoroso na escolha das pessoas que o rodeiam politicamente. Em conclusão, será interessante saber se esta imagem (um pouco de Tony Blair não liberal e à portuguesa), e que foi um sucesso nas legislativas, vai repetir a vitória, agora em Lisboa. Se sim... estamos perante uma fórmula e uma tendência. Se sim... Portugal mudou, e Lisboa mudou muito.
Esta dúvida é para mim tanto mais interessante pelo facto de o candidato rival ter uma personalidade com alguns traços antagónicos à personalidade de Carrilho. Efectivamente, Carmona é discreto em relação aos media, utiliza uma linguagem demasiado técnica adaptada à sua personalidade tímida, tem dificuldades claras de comunicação mas não é arrogante, é independente e parece competente, a sua passagem pelo Governo foi rapidíssima sem que seja possível dela concluir o que seja, e tem o estigma de ter sido enganado (pelo Dr. Lopes, ora bem). O confronto parece-me desde já positivo pois estes dois candidatos são francamente bons. O resultado final será para mim sempre uma surpresa.
Outra dúvida é saber o que vai fazer o eleitorado à esquerda do PS. Será que vão votar nos candidatos do BE e do PCP? Este último avançou já com o nome de Ruben Carvalho (boa escolha, o que atesta o eficaz trabalho de Jerónimo)... mas será que a esquerda não terá a tentação de votar útil em Carrilho, ou por outras palavras, em votar protesto contra Carmona? Ou seja, mesmo em cenário de não-coligação de esquerda, quanto forte será o apetite da esquerda em tirar o PSD da Câmara de Lisboa?