Wednesday, June 22, 2005

GREVE É QUE NÃO

A falta ao trabalho por motivo de greve teve um tempo histórico na Europa. Portugal não devia ser uma excepção.
Em rigor, esta estranha forma de “luta” – nunca percebi bem o estatuto jurídico da greve durante 5 anos de Faculdade! – à qual recorrem os trabalhadores passa exactamente por tudo aquilo que contraria a essência de um trabalhador: não ir, voluntariamente, trabalhar.
Nessa medida, sempre preferi, ao invés da “paralisação” (palavra tenebrosa, mas muito utilizada pelos media para se substituir à expressão “greve”), o caminho do protesto, da expressão verbal, da manifestação com berraria e bandeiras...
Greve é que não. Sobretudo quando nos apercebemos que são sempre os mesmos grupos e classes (a distinção deixo para os “cientistas sociais”) que preferem a greve como forma de protesto. Sim... preferem a greve, pois existem alternativas.
Greve é que não. Sobretudo quando nos apercebemos que é geralmente a função pública que recorre a este expediente paralisador. Volvidos mais de 30 anos sobre a Revolução de Abril, é difícil acreditar que o Estado persiga apenas alguns grupos ou classes profissionais, como os professores, como os polícias, como os maquinistas da CP, como (leio hoje no jornal e fico em pânico) os guardas prisionais. A greve é que não.
Se eu tiver uma audiência marcada no Tribunal e lá não aparecer por que resolvi fazer greve, e o mesmo suceder com o Ex.mo Juiz, com o ilustre representante do Ministério Público, com o solícito funcionário judicial, com os menos solícitos condutores do metro e taxistas, com o simpático dono do café onde releio sempre os processos, com o senhor do quiosque dos jornais que insiste em cobrar sempre mais, com as pobres das testemunhas que foram notificadas para a inquirição, e até com a própria fútil audiência que costuma assistir a processos bizarros... se ninguém aparecer... o que fazer? Ficará alguém certamente sem o seu direito essencial do acesso à justiça.
Do mesmo modo, os alunos cujos professores fazem greve (em plena época de exames - bolas !) ficam sem o seu direito essencial do acesso ao ensino.

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